BATISMO DO SENHOR
Is 42,1-4.6-7 / Sl 28 / Atos 10, 34-38 / Lc 3,15-16.21-22

Desde toda eternidade Deus, em sua infinita bondade, traçou um projeto de salvação para a humanidade. Diante do pecado, resta apenas um vazio no coração do homem, pois se rompe a íntima união de Criador e criatura. Deus não desiste do projeto de amor misericordioso, mas prepara com carinho um caminho de vida para que, um dia, o que foi rompido pudesse ser reatado.
Com a celebração do Batismo do Senhor a Igreja recorda o segundo momento da epifania, ou da manifestação do Senhor, não mais no presépio de Belém, mas agora nas águas do Rio Jordão. Mas, como tudo no projeto de Deus é preparado com carinho, já no Antigo Testamento o povo de Deus vai percebendo os traçados do mapa da Salvação.
O trecho do Profeta Isaías que temos na Liturgia deste domingo trata de um período muito difícil para o povo: os judeus exilados estão desorientados e frustrados. O profeta Ezequiel anunciou a libertação, mas quando ela virá? A promessa está demorando e será que Deus se esqueceu de ter piedade de seu povo? A mensagem de Isaías destina-se a consolar o povo e trazer esperança.
O povo sofre sim, mas haverá um momento de redenção. É assim que aparece no livro do profeta quatro cânticos do Servo de Deus. O que temos hoje é o primeiro cântico, que tem como tema a eleição e missão do Servo testemunhada pelo próprio Deus. Mas quem é este servo? É um instrumento usado por Deus para atuar no mundo. Nele Deus põe seu Espírito (Is 42,1) para que haja em nome de Deus sendo luz das nações, abrindo os olhos aos cegos, tirando os cativos da prisão (Is 42,7). Tudo isso o servo fará com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder da força (Is 42,3).Cada batizado também é escolhido para ser servo e instrumento de Deus. Será que hoje os cristãos têm essa consciência?
O Evangelho é o testemunho de um encontro: Jesus e João Batista. Quem é João? É uma voz que grita no deserto para que o caminho do Senhor seja preparado (Jo 1,23). É o precursor, o que corre à frente, o último profeta que fecha as portas do antigo tempo para dar lugar ao novo. Como cantamos no Tão Sublime: “pois o antigo Testamento deu ao novo seu lugar”!
A Judeia estava dominada pelos romanos e o povo aguardava uma providência de Deus. Naquele tempo o povo estava na expectativa pois sabiam que o tempo previsto por Deus para a libertação estava próximo. Haviam muitos agitadores, pessoas que se diziam messias, por isso o povo quer saber se João não é o esperado (Lc 3,15). No entanto, ele mesmo testemunha que virá um outro de quem ele não é digno nem de desamarrar as sandálias (Lc 3,20), um gesto de escravo, pois a tradição proibia até mesmo que um discípulo desamarrasse as sandálias do seu mestre. João se coloca, desse modo, como um escravo do Messias.
O próprio fato de João batizar não era novidade, pois o povo estava acostumado com a tradição judaica dos ritos de purificação. Mas João dá um novo tom ao rito ao fazê-lo como preparação de uma comunidade para a chegada do Messias.
Quando Cristo desce às águas do batismo o céu se abre, o céu se une a terra, pois Jesus vem reconciliar o homem com Deus. Do céu desce uma pomba, o Espírito de Deus, cumprimento da profecia de Isaías onde Deus punha seu espírito no servo escolhido (Is 42,1). É interessante notarmos que no início da criação o espírito pairava sobre as águas e agora, quando Cristo é batizado, inicia-se o tempo da nova criação. Por fim, o próprio Deus dá testemunho do seu ungido: eis meu filho amado (Lc 3,22), cumprimento mais uma vez da profecia de Isaías “nele se compraz minha alma” (Is 42,1).
era necessário que Cristo fosse batizado, pois o batismo era de arrependimento para os pecadores. No entanto, se o Filho de Deus entra na fila dos pecadores é para que o homem tenha acesso as fileiras da salvação. A água purifica as impurezas do corpo, mas Cristo torna pura as águas do batismo que limpam a alma do homem.
Por fim, Pedro, nos Atos dos Apóstolos confirma o projeto de Deus. Trata-se de uma catequese na casa de Cornélio, um pagão que quer se converter a Cristo. Pedro começa a entender que a proposta de salvação é para toda humanidade, não apenas para um grupo de pessoas.
O batismo é porta da salvação, e nos faz filhos e filhas de Deus. Não obstante seja esta uma graça imensa, muitos renegam o dom precioso que receberam. Desde toda eternidade Deus nos quis como filhos seus, mas é preciso que correspondamos ao apelo de Deus dando lugar para que Ele purifique nossa vida de todo pecado e preencha todo vazio. Padre Renato Oliveira